Geralmente, no campo em que a adicção a drogas e seu tratamento são abordados costuma haver uma polêmica em torno da natureza da doença o que, consequentemente, acaba gerando dúvidas e neuroses quanto a identidade do adicto.
— “Eu me chamo, Kleber. Há algum tempo não uso nada que altere meu humor, o que significa que estou limpo de qualquer substância psicoativa.”
Essa afirmação poderia tranquilamente ser ouvida da boca de um adicto em recuperação nos grupos anônimos. No entanto, o que ouvimos na realidade com mais frequência é: “Me chamo Kleber, sou mais um adicto em recuperação.” Existe uma armadilha nesse tipo de afirmação nem sempre percebida por quem a emite. Poderemos dizer que, em certo grau de consciência, dependendo da concepção de adicção que o sujeito tiver, estará contribuindo para a própria estigmatização. Vejamos os porquês.
Disposto nos manuais de psiquiatria, o diagnóstico para a dependência química nos apresenta três sintomas básicos, entre outros, que o paciente precisa demonstrar durante o período de um ano, a saber: aumento progressivo da tolerância, síndrome de abstinência (fissura) e uso contínuo apesar das consequências. Além disso, também diz que é uma doença biopsicossocial, que afeta todas as áreas da vida. Deixando os termos técnicos de lado, mas continuando com a ideia principal, é importante perceber que os três registros (biopsicossocial) da doença não são considerados separadamente, manifestando-se de forma interdependente e distinta para cada pessoa. Acontece que, pela mensagem de recuperação ser dada de forma individual, ela vem sendo contaminada e distorcida por um interesse subconsciente em planificar e horizontalizar a personalidade e a identidade do dependente.
Quem é um adicto? De acordo com a literatura de NA, adicto é um homem ou uma mulher cuja vida é controlada pelas drogas. Entendo que, se a causa do problema é a droga, a partir do momento em que o uso foi estancado a doença começa a regredir até que seus sintomas desapareçam. Muitos dependentes em recuperação confundem comportamentos normais com a doença provocando dúvidas e neuroses. Identificando-se com eles, ao vestirem a roupa que não lhe serve mais, o dependente cria uma identidade fictícia que acaba por estigmatiza-lo. Alguns comportamentos como: viés negativo, distorção cognitiva, procrastinação, mecanismos de defesa, egocentrismo, narcisismo, ansiedade, depressão, amor-paixão, falta de habilidades sociais e crises existenciais são comuns a qualquer pessoa e não fazem parte da dependência química. A parte social da doença, para mim, está mais relacionada à desconfiança gerada nas pessoas próximas e à incapacidade para se empregar (no uso). Mas isso é assunto para outro artigo.
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Escrito por Kleber da Cruz
Fonte: https://casadiasp.com.br/blog/identidade-e-estigmatizacao/