O tratamento do alcoolismo é importante não somente para o dependente, mas também para todos aqueles que convivem com ele. Nesse sentido, a dependência alcoólica trata-se de uma doença muito séria, cujos impactos afetam a família, os amigos, as relações profissionais e o convívio social, além de atingir o próprio dependente.
Os familiares mais próximos, sobretudo, são os mais envolvidos pelos impactos do vício e tem um papel essencial na busca pelo tratamento e no sucesso da reabilitação.
Os impactos do alcoolismo no meio familiar
A estrutura de uma família é baseada no bem-estar e na harmonia de todos aqueles que dela fazem parte. Quando um dos membros adoece, toda família se une para ajudá-lo na recuperação, porém, no caso de um dependente químico, essa cooperação é abalada, uma vez que, mesmo sem perceber, a família adoece junto, complicando muito mais o caso.
De fato, o consumo de álcool é algo totalmente normal em nossa sociedade: bebe-se para comemorar, para aliviar o estresse, para esquecer os problemas, entre outros motivos, mas, muitas vezes, a bebida acaba se tornando uma válvula de escape e é aí que nasce o problema.
Diferente de outras drogas, diante das quais os familiares tendem a se informar e buscar por ajuda logo aos primeiros indícios, com o alcoolismo, esse processo acaba sendo mais lento, devido à tolerância social do consumo de álcool. O que muitos desconhecem, no entanto, é que o álcool é tão ou mais perigoso que outras drogas nocivas e, junto com o cigarro, é uma das drogas que mais matam hoje.
Na maioria dos casos, o alcoolismo só é levado a sério quando os impactos da doença começam a afetar a convivência familiar e social do dependente. Os sinais mais comuns da gravidade do problema são:
- perda do emprego;
- desprezo pela aparência e cuidados pessoais;
- exaustão emocional;
- brigas constantes e/ou isoladamente, que abrem chances para vários outros problemas de saúde física, mental e social.
Quando a situação chega ao extremo desses limites, é comum que as relações se desgastem e o dependente perca seus amigos, o apoio dos familiares, ou pior, que eles adoeçam juntos, tornando-se codependentes, o que torna mais grave estágio da doença, pois, uma vez que a pessoa perde o apoio e afeto daqueles que ama, a chance de recuperação é muito menor.
Codependência
É comum a família “adoecer” junto com o dependente e a esse fato denominamos codependência, uma doença emocional e comportamental. Estudada desde o final da década de 70, ela é mais uma das consequências da dependência no meio familiar.
O codependente pode ser um filho, um pai, uma mãe, um cônjuge ou uma pessoa querida, que tenha envolvimento direto com o dependente e que, por não saber lidar com os problemas da dependência em seu convívio, acaba desenvolvendo padrões doentios.
Um dos sintomas mais comuns dessa doença e que acontece muito em casos de alcoolismo é quando o codependente reage à doença de alguém com dependência química e, quanto mais ele reage, mais a dependência tende a aumentar.
Essa relação disfuncional pode comprometer não somente a saúde e qualidade de vida da família, como também o sucesso no tratamento do dependente, que se sentirá ainda pior emocionalmente.
A ajuda especializada é fundamental, afinal, as clínicas de recuperação têm inúmeras abordagens que podem ajudar toda a família durante a intervenção. Por isso, elas são tão importantes no tratamento de alcoolismo e devem ser o primeiro contato da família e do dependente para o sucesso na longa trajetória terapêutica.
A importância da família no tratamento do alcoolismo
Apoio especializado à família: o primeiro passo
A presença do alcoolismo representa uma questão tão desgastante em longo prazo que, muitas vezes, por mais que a família reconheça o problema e queira ajudar, ela não consegue se estruturar para tal. Uma alternativa para esse problema é buscar ajuda especializada, que orienta a todos sobre como abordar o dependente e ajudá-lo a compreender a necessidade do tratamento.
As clínicas de recuperação possuem uma equipe multidisciplinar, com médicos clínicos e psiquiatras, psicólogos, terapeutas ocupacionais, educadores físicos, assistentes sociais e enfermeiros. Juntos, esses profissionais terão papel crucial no sucesso do tratamento.
O apoio da família durante o tratamento do alcoolismo
Durante o tratamento do alcoolismo, as metas principais são: a abstinência, a redução dos prejuízos psicossociais e o tratamento das comorbidades clínicas e psiquiátricas existentes em detrimento do uso prolongado do álcool.
Quanto maior o número de envolvidos no processo, maiores as chances de sucesso no tratamento. Embora os amigos sejam importantes, o apoio familiar é o principal.
Geralmente, os familiares são os que têm mais contato com o paciente durante o tratamento. Da mesma forma, normalmente são as pessoas que sempre estiveram presentes durante a vida do dependente. Por isso, é importante que a família busque:
- estimular a realização de atividades que ajudem o dependente a investir sua energia em tarefas saudáveis, como exercícios físicos, aulas e cursos, aprender a tocar um instrumento musical etc.;
- observar o comportamento do dependente, buscando orientá-lo (juntamente com a equipe multidisciplinar da clínica psiquiátrica) sobre condutas que possam ser prejudiciais ao tratamento do alcoolismo;
- desestimular o contato com pessoas e situações que possam influenciar negativamente o processo como um todo;
- auxiliar a aderência, permanência e superação de obstáculos durante o tratamento;
- acompanhar o dependente nas reuniões quando ele se sentir desestimulado;
- estimular maior contato com amigos, que são pessoas que dão “um brilho a mais” na vida do dependente;
- demonstrar respeito e compreensão, sem julgar a pessoa;
- proporcionar conforto físico e emocional em casa;
- incentivar a busca por ajuda profissional e mostrar que isso é importante para a família;
- reconhecer a codependência e procurar ajuda para resolvê-la;
- fazer mudanças no ambiente familiar, se for necessário;
- estar sempre presente, mesmo que não seja fisicamente;
- se manter informado sobre causas, efeitos e complicações que a doença pode apresentar, assim como sobre as etapas e efeitos do tratamento;
Por fim, muitos pensamentos desviantes surgem durante o tratamento. O dependente sente-se desmotivado, fracassado e pode se excluir do contato social. Nesse caso, a família deve permanecer o mais engajada possível para ajudar, de forma que o dependente se sinta amado e tendo menos dificuldades ao longo do processo.
A relação entre a família e os profissionais
Ao falarmos sobre a participação da família no tratamento do alcoolismo, também é importante dar atenção à interação dela com os profissionais. Essa relação deve ser positiva, de modo que possibilite uma ajuda mútua entre as partes.
É importante que a equipe seja de confiança e tenha abertura para ouvir a família. Afinal, ela conhece o indivíduo há mais tempo e de forma mais aprofundada. Assim, os familiares podem contribuir muito durante o processo, fornecendo informações sobre a pessoa, como seus hábitos, seu comportamento, entre outros detalhes importantes.
Por outro lado, é essencial que também haja um acompanhamento profissional direcionado à família. Ela deve ser acolhida pelos profissionais e eles devem ajudá-la a lidar com a situação.
É preciso que os parentes sejam informados sobre a doença (suas características, causas e efeitos), além de receberem orientações sobre como lidar com ela e com o paciente. Os profissionais também devem conscientizá-los da importância de demonstrar apoio e respeito e de não agir com julgamento ou agressividade.
Como a situação também é muito delicada para a família, é importante fornecer serviços voltados para ela. Grupos de apoio, atendimento e acompanhamento psicológico são algumas das maneiras existentes para acolher os familiares e suas demandas.
A terapia sistêmica, por exemplo, é um método muito válido para esse contexto. Toda a família pode participar dela, incluindo o próprio dependente, e ao longo do processo serão consideradas as perspectivas e opiniões de cada um, de modo que todos possam se expressar e ouvir uns aos outros. Nesse modelo, também haverá a possibilidade de alterar padrões e hábitos familiares prejudiciais.
Outro ponto é que os profissionais devem estar conscientes da importância do papel da família, não excluindo ou desconsiderando ela durante o tratamento. Mesmo se for necessário um tempo de afastamento, em uma internação, por exemplo, as visitas periódicas e o contato devem ser permitidos e incentivados.
Lembrando que, assim como o dependente, a família deve receber atenção não apenas durante o tratamento, mas ao longo da vida também. É importante que ela seja orientada sobre como agir para prevenir recaídas, por exemplo.
Uma boa relação entre familiares e profissionais funciona como uma via de mão dupla, em que todos são beneficiados.
O apoio e a comunicação entre famílias
Não são somente os profissionais que podem acolher as famílias: elas podem ajudar umas às outras. Estudos já comprovaram como a troca de experiências contribui muito para melhorar as circunstâncias da situação. Grupos de apoio, rodas de conversa e organizações são exemplos de como as famílias podem se unir e se apoiar.
A terapia cognitivo-comportamental para o tratamento de alcoolismo
Como vimos até aqui, para uma maior efetividade, o tratamento do alcoolismo deve envolver não só dependente, mas também os familiares, e cada caso deve ser analisado de acordo com as suas particularidades.
Os tratamentos do alcoolismo em geral são de médio e longo prazo, e a maioria inclui programas multidisciplinares que envolvem profissionais especializados em diversas áreas como psicologia, médica, social, educação física e até jurídica em alguns casos.
Um dos tratamentos mais usados por profissionais é a terapia cognitivo-comportamental, que pode ser familiar ou de casal, e tem como objetivo a interação familiar como apoio para restringir os fatores e comportamentos que ativam os gatilhos do vício e fortalecem o dependente contra possíveis recaídas.
A terapia visa a envolver e tratar a todos afetados pela doença por meio da conscientização e empenho coletivo. O papel da família funciona como se fossem mentores. Suas funções vão além da análise do paciente, mas incluem uma participação ativa, para que exista uma manutenção da saúde e bem-estar do dependente e de todos.
É cientificamente comprovada a eficiência da terapia cognitivo-comportamental no tratamento do alcoolismo, pois, em uma que a família se conscientiza e se trata junto, as chances de melhoras do dependente são muito maiores.
Fonte: blog viver sem droga